Classificados Existenciais

Adoro ler classificados. Passeio por eles vendo as ânsias e as esperanças das pessoas, postas na boca do mundo. E eu fico pensndo em redigir um pra mim, tão grande que nem tenho grana para pagar.... Seria mais ou menos assim:

Procuro um emprego. Tenho todas as vacinas, inclusive contra indiferença de homem misterioso. Sim, porque em certos homens, a gente não sabe se aquele "clima" é tédio ou mistério. Se for tédio, pobre da gente....

Solicito ao patrão certas preguiças. Não as que atrapalham o serviço, mas as que tiram de hoje par dar amanhã; preguiças estimulantes para trabalhar melhor e dobrado após me abastecerem com seu efeito: preguiça de tarde fria, preguiça boa de espreguiçar às quatro e quinze da tarde, de dar espirros alérgicos, de chegar mais tarde porque de manhã sou lentinha, mas prometo ficar bem depois, porque de noite sou inteligente...

Sou capaz de me dar muito silenciosamente. Pedrinha por pedrinha. Respeito por respeito, mas preciso que aceitem meus cansaços, a vagotomia das segundas feiras. Quanto ao meu currículo, devo dizer que entendo de: gatos, tartarugas, crianças, praça chovida à tarde, momentos de Brahms, Jung, criatividade, pessoas de bom caráter, poemas de Drummond, gosto de pessoas que não impõem a sua presença, penugem, papo de esquina, sentimento do outro, cabelo escorrido, cheiro de bacon e amigo que não exige.

Entre minhas falhas estão: impaciências pra certas coisas e pessoas, detestar falsos íntimos, gostar de ficar sozinha e ter um espaço só meu, odiar barulho de chicletes mastigados, não corresponder à imagem que desperto, detestar ser idealizada, não topar certas pessoas muito carregadas de certezas, querer salário alto, angústia de mato, precisar debater as coisas, acreditar que tudo flui.

Se ainda assim, houver um lugar pra mim, cartas à redação deste blog.