18 de fevereiro de 2009

Dança dos dedos num corpo de mulher

Ela não conseguia atinar porquê. Tinha vergonha só de lembrar. Vinha de uma época em que tudo era proibido.
Tanta razão para lembrar dele, o hálito, a saliva, as intensidades vividas juntos, momentos máximos de uma vida, amando muito; tanta razão, tanto motivo, do mais tolo ao mais sério, paixão e morte naquela que foi a história da sua vida; - e do que sentia mais falta era da forma como ele passava os cinco dedos no corpo dela.
Estranho, mas era assim. Em matéria de carinhos, a mão dele possuía sabedoria infinita, capacidade de inovação em casa encontro, rito perfeito conforme o momento, agitações quase agressivas, fricções ásperas, puxões certos da razi dos cabelos, o que doía e irritava, mas logo aumentava a excitação, misturando ao amor uma dose exata de raiva que a preparação do ato precisa: suavidade de pluma, carícia de um veleiro em lago suíço.
A mão dele dominava os vários e diversos andamentos da relação, sabia contornar, circundar, ser garra, anzol, cobertor, percorrendo devagar cada sinuosidade do desenho dela, saboreando os trechos do seu corpo onde beleza era pouco visível ao olhos. Sabia apalpar, ziguezaguear os ossos relevantes, ser terno nas zonas ternas.
Estalavam estrelas sensuais em suas mãos frementes, libertadoras de todas as intensidades que a vida reprimira nela. Nada disso era deliberado.
O carinho brotava dele como um som natural, um respirar. Ela é que acostumara.
Na saudade do nunca mais, entre as recordações de um amor único, impossível, amargo, mas integral, o que ficava para sempre era a ponta daqueles cinco dedos, antecipadores de orgasmos fundos como a noite dos tempos que geraram as estrelas.

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